Notícias

17 de março de 2021

Entrevista a Maria da Luz Leite, primeira Bastonária da OFCV

Por ocasião do mês dedicado à mulher, a AFPLP entrevistou a primeira Bastonária da Ordem dos Farmacêuticos de Cabo Verde (OFCV), e esteve à conversa sobre os temas da atualidade no arquipélago. Entre os maiores desafios da profissão farmacêutica no país, as grandes lições aprendidas na pandemia de COVID-19, e um olhar para o futuro, Maria da Luz Leite fala-nos sobre uma perspetiva positiva, unificadora e construtiva do setor farmacêutico em Cabo Verde. 

Leia a entrevista na íntegra aqui.

​​

1. Quais considera serem os maiores desafios que a profissão farmacêutica enfrenta em Cabo Verde?


Diria que, depois dos desafios herculanos com os quais o Sector da Saúde foi confrontado no pós-independência, a 5 de julho de 1975, com a edificação de um Serviço Nacional de Saúde, incluindo o sector farmacêutico, neste momento, um dos principais desafios da profissão farmacêutica passa pela realização efectiva dos objectivos que precederam à criação Ordem dos Farmacêuticos de Cabo Verde (OFCV) e dos seus Estatutos, nomeadamente:
 
  • A dignificação da classe farmacêutica;
  • A afirmação do farmacêutico na Sociedade como profissional e prestador de serviços de saúde;
  • A qualificação profissional como factor importante e decisivo para um desempenho profissional, competente, responsável e actuante.
Contando, atualmente, com cerca de 123 farmacêuticos, distribuídos pelas diversas áreas de atividade, é importante que continuemos a envidar esforços no sentido do desenvolvimento e fortalecimento da nossa profissão, como forma de potenciar o valor acrescentado da intervenção farmacêutica no Sistema de Saúde.
 
Na mesma linha, importa que a OFCV e os poderes públicos sejam capazes de implementar ações e iniciativas dirigidas ao reconhecimento e valorização dos farmacêuticos, enquanto profissionais e prestadores de serviços de saúde de proximidade. O farmacêutico, de acordo com as melhores práticas da profissão é, hoje e cada vez mais, “um especialista do medicamento e um agente de saúde pública”.
 
Um outro desafio, igualmente importante, para a profissão é a integração efetiva dos farmacêuticos nas equipas multidisciplinares nas estruturas de saúde e a sua complementaridade com o sector privado, proporcionando grandes benefícios, quer nos resultados clínicos alcançados, quer na racionalização da gestão de recursos.
 
Para terminar, falaria de um desafio para toda a vida e em todas as latitudes, mas que ganha particular relevo para um país insular: a aposta consistente e permanente numa formação de qualidade, com o objetivo de promover competências e capacidades técnico-científicas do farmacêutico, visando melhorar o seu desempenho na Sociedade e junto da população.  
 
 

2. Quais considera serem as grandes lições aprendidas nesta pandemia?


Os impactos desta epidemia, que ainda subsistem, no sector da saúde, na economia dos países e na própria vida e no lado emocional das pessoas foram brutais, ditando alterações profundas no modo de vida a que estávamos habituados, que foi suspenso indefinidamente.
No “novo normal” em que estamos a viver, há lições que aprendemos para a vida toda ou, dependendo da perspetiva, que nunca deveríamos ter esquecido. Apontaria, como exemplos mais ilustrativos, a importância da Ciência, a robustez e a capacidade de resposta dos serviços públicos, as formas de ensinar e trabalhar à distância e, por último, mas não menos importante, as relações humanas e a forma como lidamos com o outro.
A crise económica, sem precedentes, que está a abalar o mundo inteiro, mostrou a atenção que devemos dar:
 
  • Ao Sistema Nacional de Saúde, no sentido de o dotar de recursos humanos, materiais e financeiros adequados para que possa estar preparado e capacitado para dar as respostas necessárias às novas ameaças e garantir a segurança sanitária das populações.
  • À Solidariedade e Cooperação a nível mundial, quer na vertente de apoio social, quer na dimensão de partilha de experiências e conhecimento entre profissionais de várias áreas e entre as nações, que permitiu a tomada de decisões importantes no desconhecimento e no medo;
  • À capacidade de mudança e adaptação, demonstrada no processo dos confinamentos, na confecção de máscaras comunitárias, na adaptação de diversos estabelecimentos em locais de acolhimento de doentes, na implantação do teletrabalho e no ensino à distância;
  • Às tecnologias de informação e comunicação que encurtaram as distâncias e nos permitiram estar próximos, realizando importantes reuniões e conferências através das inúmeras plataformas virtuais;
  

3. O que espera da AFPLP?


Da AFPLP, enquanto associação transnacional de carácter profissional e científico, que visa, fundamentalmente, promover as Ciências Farmacêuticas e defender os interesses da profissão em todos os países de língua portuguesa, espero que seja capaz e hábil em priorizar a sua atuação nos seguintes eixos estratégicos:
 
  • Apoiar as atividades de qualificação profissional, na vertente de formação farmacêutica pré e pós-graduada, com vista a dotar os países da Comunidade, de especialistas nas diversas áreas de atividade;
  • Contribuir para a atualização de conhecimentos dos atuais profissionais, através da realização de intercâmbios e partilhas de experiências profissionais e científicas;
  • Investir cada vez mais no fortalecimento das relações de cooperação e de amizade entre as Ordens Profissionais dos países de Língua Portuguesa e com Organismos Internacionais com interesse relevante na área farmacêutica.

Nota Biográfica:
Maria da Luz Neves Nobre Leite, natural da ilha de São Vicente, nasceu a 22 de Dezembro de 1951 tendo-se licenciada em Farmácia pela Faculdade de Farmácia de Lisboa em 1975.
Num contexto de pós-graduação, estagiou nas áreas de Química Clínica, Hematologia, Bacterologia Geral e Serologia no Instituto Ricardo Jorge, em Lisboa (1975) e posteriormente em 1980, a convite do Laboratório Militar, volta a estagiar em Portugal tendo desenvolvido amplos conhecimentos na área da indústria farmacêutica.
Entre as funções desempenhadas, foi sucessivamente:
  • Diretora do laboratório de Análises Clínicas do Hospital Agostinho Neto, na Praia (1976/1977);
  • Diretora do Depósito Nacional de Medicamentos do Ministério da Saúde (1977/1981);
  • Coordenadora da Direção Geral de Farmácia (1977/1981), e mais tarde sua Diretora Geral, de 1981 a 1992.
  • Diretora Geral da EMPROFAC entre (1993/1997) e Presidente do seu Conselho de Administração, de 1997 a 2005.
Cumulativamente com as funções de Diretora Geral de Farmácia, foi nomeada:
  • Presidente da Comissão Nacional de Medicamentos
  • Membro do Conselho do Ministério da Saúde e Promoção Social,
  • Membro do Conselho Científico da Revista Clínica do Hospital Agostinho Neto,
  • Membro da Comissão de Coordenação Nacional de Combate à Droga
  • Vogal da Comissão Consultiva Interministerial de Produtos Fitofarmacêuticos para uso agrícola.